sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Intolerância do atraso

Seria muito mais discreta a passagem pelo Brasil da blogueira e dissidente cubana Yoani Sánchez, não fossem as manifestações raivosas de militantes de setores mais radicais da esquerda. Lamentavelmente, o que tem tornado a visita da blogueira um destaque é a selvageria; a demonstração de ignorância e atraso, protagonizada por pessoas incapazes de viver ordeiramente em uma democracia.
A passagem de Yoani Sánchez pelo Brasil, chega a lembrar as agressões sofridas pelo governador Mário Covas (PSDB-SP) por essas mesmas correntes ideológicas, na época estimuladas por José Dirceu. Mário Covas já estava com um câncer no cérebro, que poucos meses depois o levaria à morte. Aquele ato de intolerância e indigno mostrou-nos até que ponto pode chegar o radicalismo e o desrespeito humano, como também à autoridade constituída pelo voto popular.
No caso da blogueira Yoani Sánchez não há razão alguma para esses protestos e agressões. O que ela pretende, é simplesmente mostrar ao mundo, as condições em que vive seu povo, oprimido pela falta de liberdade e de condições básicas de vida, devido à escassez de produtos de primeira necessidade e a carestia, além de poder lançar por aqui o seu livro.
Logicamente, só iria assistir às palestras proferidas por Yoani quem se interessasse pelo tema. Impedir o direito de informação é mais uma agressão, que não pode ser consentida.
Mas, como há gosto para tudo, há “autoridades” que preferem os modelos fechados e autoritários, nos moldes do sistema cubano. Essas gostariam de viver eternamente a expensas do Estado, razão pela qual abominam o sistema de direito, democrático e republicano.
Esse deve ser o caso do coordenador-geral de Novas Mídias da Secretaria-Geral da Presidência da República, Sr. Ricardo Poppi Martins, que recebeu um dossiê do corpo diplomático cubano, desqualificando Yoani. Ele também deve ter auxiliado o Sr. Rafael Hidalgo, conselheiro político da Embaixada de Cuba em Brasília, a fomentar a desqualificação da blogueira, haja vista a reunião realizada com militantes do PT, do PCdoB e integrantes da CUT, conforme revelado pela revista “VEJA”.
Segundo as próprias palavras de Yoani “não é um dossiê sobre os argumentos que apresento, ou que negue algo que escrevo em meu blog, mas um dossiê que trata de me matar eticamente e moralmente frente aos meus leitores. Não há possibilidade de um debate em uma polêmica quando o outro quer te destruir”.
Estranho é que até a chegada de Yoani ao Brasil não fossem tomadas quaisquer providências para que a sua segurança fosse garantida. Assim, literalmente, Yoani Sanchéz foi deixada livre aos cães.
Mesmo assim, Yoani dá a sua demonstração de grandeza quando fala: “Só penso que esse ódio é de pessoas que nunca leram meus textos e foi fomentado por terceiros. No entanto, a sensação final foi de vitória, apesar dos insultos e gritos. No fim do debate, havia argumentos de minha parte, e por parte deles só palavras de ódio”; ou quando diz “sou uma pessoa que usa palavras e não uso armas”.
Por todos os pronunciamentos e tudo que vi de Yoani Sánchez em sua viagem ao Brasil, juro aos leitores dessa coluna que me tornei mais um dos seus admiradores. Daqui para frente estarei acompanhando o seu blog e que comprarei o seu livro que está sendo lançado no Brasil. Farei sua leitura com o maior prazer!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Carnaval: do Entrudo à Escola de Samba


O carnaval chegou ao Brasil junto com a colonização portuguesa, com o nome de entrudo, justamente por marcar a entrada da Quaresma, que inicia o ano lunar do Cristianismo na Quarta-Feira de Cinzas. Desde o século V a Igreja Católica já comemorava essa data como um dia de festa – um “adeus à carne”, marcado por brincadeiras e muita diversão, que rapidamente se propagou por toda a Europa.
No Brasil, o entrudo passou a sofrer grandes modificações depois do século XVIII, sobretudo pelas influências de outras culturas, além da europeia. A brincadeira caseira, que consistia em jogar água de cheiro uns nos outros, chegou às ruas, ganhando um estilo rude e agressivo, com a utilização de água suja, tinturas, farinhas e até excremento, que não poupava àqueles que circulassem nas ruas.
Além da violência, há relatos de que as ruas do Rio de Janeiro, já naturalmente sujas pela carência de hábitos de higiene, ficavam enlameadas e com extremo mau cheiro, causando péssima impressão aos visitantes. Deste modo, o entrudo passou a ser reprimido pelas autoridades.
No final dos anos 30 do século XIX, a elite carioca começa a substituir o entrudo caseiro pela fantasia, inspirada nos bailes de máscaras de Paris e nas comemorações carnavalescas italianas. Passa, então, a desfilar em carruagens, percorrendo as ruas da cidade com destino aos clubes. Esta tradição evolui para o desfile organizado em grandes carros enfeitados, que deram origem às Grandes Sociedades.
Essas Grandes Sociedades ganham imensa popularidade utilizando do sarcasmo e humor. Por isto, passam a disputar o carnaval entre si, em desfiles que durariam por mais de um século.
Depois, no início dos anos 70 dos oitocentos, surgiu o Rancho Carnavalesco, com fantasias variadas e instrumentos musicais de corda e percussão. De origem mais popular, o Rancho utilizava elementos das tradições negras e das procissões religiosas, com seus pastores e pastoras, porta-bandeiras e mestre-salas, entre outros figurantes. A primeira marchinha do carnaval brasileiro, “Ô abre alas”, foi composta por Chiquinha Gonzaga especialmente para o rancho “Cordão Rosa Preta”, em 1899.
Já a Escola de Samba é uma manifestação autenticamente popular, nascida no Rio de Janeiro, que mescla a cultura predominantemente africana a elementos das Grandes Sociedades e dos Ranchos Carnavalescos. No entanto, o principal elemento é o próprio samba, que teve origem no Recôncavo Baiano - o “samba de roda”, introduzido na capital do império na segunda metade do século XIX.
A primeira Escola de Samba do Brasil foi a “Deixa Falar”, fundada no Rio de Janeiro em 18 de agosto de 1928 por um grupo de boêmios do bairro carioca do Estácio, sob a batuta de Ismael Silva, que teve a ideia de organizar um bloco inspirado no samba, com evoluções próprias.
Segundo estudiosos, o termo “Escola de Samba” surgiu porque a “Deixa Falar” fazia os seus ensaios ao lado de uma Escola Normal situada na rua do Estácio. Dai juntaram o nome “escola” ao “samba”.
Com o sucesso da “Deixa Falar” a Escola de Samba foi se proliferando por outros bairros. Então surgiram a “Estação Primeira”, que depois também passou a se chamar Mangueira, a “Cada Ano Sai Melhor”, a “Vizinha Faladeira”, a “Vai Como Pode” (atual Portela), entre inúmeras outras escolas, que foram crescendo e se modernizando.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

“Voz rouca das ruas”

Com o apoio maciço do Partido dos Trabalhadores (PT) às candidaturas de Renan Calheiros (PMDB-AL) e de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) à presidência do Senado e da Câmara dos Deputados, respectivamente, fica praticamente definida a aliança entre esses dois partidos para as eleições majoritárias de 2014. Teremos, de novo, a dobradinha Dilma Rousseff (PT-RS) e Michel Temmer (PMDB-SP).
O maior interesse do Planalto na eleição do Senado e da Câmara é que a união entre o PT e o PMDB esteja bem consolidada, para a próxima eleição presidencial. Ambos os partidos já estão estruturados em todo Brasil, e juntos terão forças para uma grande campanha. Mesmo no Nordeste, onde Eduardo Campos – governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB - tem ampla penetração e pode ser uma ameaça.
O Nordeste é o que mais preocupa o governo, pois é a região que garantiu as vitórias do PT nas três últimas eleições presidenciais, e que pode definir um segundo turno.
Neste momento pouco importa ao governo que Renan Calheiros tenha a ficha manchada e suja. O desgaste do PT será momentâneo e passageiro, pois, certamente, eles têm certeza de que todo brasileiro tem memória curta. Por isto, já nem levam em conta os desgastes do MENSALÃO e da sequência de escândalos do governo. Está aí a imagem da presidente Dilma sem qualquer arranhão, conforme mostram as pesquisas.
Por esta razão, a bancada do PT não tem qualquer constrangimento em reconduzir Calheiros à presidência do Senado. Apenas tergiversa, simulando ser a escolha de competência exclusiva do PMDB, conforme fez Wellington Dias (PT-PI), ao dizer que “o PT está 100% fechado com a decisão que o PMDB tomar, seja qual for o indicado”. Mas, é lógico, que Renan Calheiros é o escolhido, tanto do Planalto como do Alvorada.
Assim, a presidente Dilma vai atuando às sombras, descolada. Ela sabe que “não pode e não deve” misturar-se aos políticos. Sua alta popularidade é o que lhe importa; tanto faz um Congresso Nacional com a imagem estraçalhada, desde que lhe tenha fidelidade. 
Contudo, o que é bom para o PT e o PMDB, e também para a representante maior da nação, pode não ser o melhor para o Brasil e os brasileiros.
Nesta semana, a grande imprensa de norte ao sul do Brasil, baseada em matéria de “O Estado de São Paulo”, mostrou o escândalo da utilização do dinheiro publico pelo Senado nos últimos 10 anos de administração peemedebista; desde o início da era Lula da Silva, em 2003.
Segundo o “Estadão” as administrações de José Sarney, Renan Calheiros e Garibaldi Alves Filho aumentaram os gastos do Senado com pessoal em 57%; o número de cargos em comissão - aqueles que não necessitam de concurso público – aumentou em 741%. Em 2003 a folha de salários, com valores corrigidos, era de um pouco mais de R$ 1,00 bilhão/ano; atualmente chega a R$ 1,83 bilhão/ano. 
Hoje, considerando que o Senado emprega cerca de 10.000 servidores, temos, então, um salário médio de aproximadamente R$ 14.100,00/mês, uma realidade bastante distinta da do trabalhador brasileiro.
Mas, para a base do governo pouco importa o abaixo assinado com mais de 180.000 assinaturas na internet, contra o retorno de Calheiros à presidência do Senado da República; nem outro tipo de pressão popular.
Quanto à denúncia feita pelo procurador-geral de República ao Supremo Tribunal Federal contra Calheiros, por vendas de bois “fantasmas” com apresentação de notas frias, não passará de mais uma “perseguição” de Roberto Gurgel, inimigo declarado das principais lideranças petistas.
Então, dá saudades de uma liderança como a do saudoso Dr. Ulysses Guimarães, pois nossos políticos teimam em não escutar a “voz rouca das ruas”.