terça-feira, 30 de julho de 2013

O Visionário do Império

Do palacete na Rua do Imperador - um dos mais luxuosos da capital do Império - avistava-se a residência oficial de D. Pedro II: o Palácio de São Cristovão. O palacete era o símbolo da ascensão de um menino nascido no Arroio Grande, na fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai, em 1813. Seu nome é Irineu Evangelista de Souza – Barão e Visconde de Mauá.
Irineu chegou ao Rio de Janeiro, aos nove anos, pelas mãos de um tio. Vinha com a guarda transferida pela mãe, Mariana de Jesus, por rejeição do padrasto - aos cinco anos havia perdido o pai, João Evangelista, assassinado por ladrões de gado. É empregado, então, como caixeiro do comerciante português Pereira de Almeida, em troca de comida e cama, como era comum à época. Aos 15 anos é promovido à guarda-livros, pela aptidão e conhecimento minucioso dos negócios.
Em 1829 o comércio de Pereira de Almeida é transferido ao escocês Ricardo Carruthers. Irineu percebe novas oportunidades e passa a dedicar o tempo vago aos estudos, inspirado nos conhecimentos do novo chefe. Carruthers, por sua vez, vê no jovem talento a capacidade para torná-lo gerente da casa Carruthers & Cia em 1834. Um ano depois, faz de Irineu, aos 24 anos, seu sócio, quando resolve retorna à Escócia.  
A primeira viagem de Irineu à Europa acontece em 1840, quando visita diversas indústrias e conhece o mundo das finanças e das grandes corporações inglesas, em um momento de superprodução e crise. Cheio de novas ideias, ainda em solo europeu, cria com os amigos a empresa Carruthers, De Castro & Cia, para captar dinheiro no mercado inglês e investir no Brasil. 
Nesse período, aqui predominava a crença escravocrata de que a riqueza só poderia ser produzida pela agricultura e pelo comércio. O trabalho era desprezado: uma atividade humilhante, destinada aos lacaios e escravos.
De volta ao Brasil as ideias estavam consolidadas. Irineu trabalha para remover as barreiras políticas e conceber e executar novos e ambiciosos projetos. Passo a passo, com prudência e moderação, passa a empreender cada um deles, sempre pensando em atender as expectativas dos sócios. Como aliado tem a motivação dos colaboradores e “uma política administrativa fora dos padrões brasileiros”, como diz Jorge Caldeira em “Mauá: Empresário do Império”.
Aos 40 anos Irineu Evangelista já era um homem abastado. Possuía uma fundição com 700 operários; um estaleiro no Brasil e outro no Uruguai; uma companhia de navegação no Amazonas; três estradas de ferro; bancos no Brasil, Inglaterra, França, Estados Unidos, Argentina e Uruguai; fábricas diversas, fundições e mineradoras; estâncias de criação de gado e empresas de comércio exterior. Era ainda concessionário da Companhia de Iluminação à Gás e de linhas de bonde. 
O montante dos negócios do Barão e Visconde de Mauá em 1867 chegava a 115 mil contos de reais, só comparável ao orçamento do Império, que era da ordem de 97 mil contos de reis.
Para administrar tantas empresas usava a política de descentralização, atribuindo responsabilidade de decisão aos gerentes e valorizando a remuneração do trabalho. Por isto, limitava a utilização de escravo a apenas quando faltasse alternativa. Neste caso, optava pelo aluguel, tratando igualitariamente o escravo com o trabalhador livre.
Contudo, para a sociedade escravocrata e a corte imperial brasileira, Mauá cometia a heresia do lucro. Seu universo de negócios era incompreendido e invejado, em um mundo em que os grandes empreendimentos estavam sob o controle do Estado, o que o fazia também intolerante. 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Papagaio Ensinado


Creio que foi ao final do ano passado, no programa “Globo News Dossiê”, que o ex-guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional (ALN), Carlos Eugênio Paz, de codinome Clemente no mundo da guerrilha, confessou publicamente ter participado no assassinato de um “cumpanheiro”. A vítima, Márcio Leite de Toledo, então com 26 anos, havia treinado guerrilha em Cuba. No Brasil, clandestinamente, fazia parte da Coordenação Nacional da ALN.

O motivo alegado foi de que Márcio era uma ameaça à cúpula da guerrilha, quando na realidade ele queria abandonar a ALN, talvez pelo próprio medo de ser morto pela repressão do regime militar. Na época, para Carlos Eugênio, e mais três “cumpanheiros” que participaram do assassinato, a ameaça não passava de uma mera suposição. É fato que eles fizeram o julgamento do Márcio, como juízes e testemunhas, condenando-o à pena de morte.

Na entrevista à Globo News, Carlos - o ex-Clemente - disse reconhecer que esse ato não teve “nada glorioso”, justificando a razão de quebrar o silêncio, como exemplo aos militares que participaram de atos de exceção. Por sua ótica, também os militares deveriam relatar à Comissão da Verdade os seus atos.

Márcio Leite de Toledo era um ex-estudante de sociologia. Morreu baleado nas ruas de São Paulo, depois de uma emboscada, sem qualquer direito de defesa.

Junto a seu corpo foi deixada a sentença, na forma de panfletos, com os seguintes dizeres: Uma organização revolucionária em guerra declarada, não pode permitir uma defecção desse grau em suas fileiras.

A Lei nº 6.687, de 28 de agosto de 1979, chamada Lei da Anistia, promulgada pelo general João Figueiredo, último presidente militar, já nos anos de abertura da política, beneficiou tanto os guerrilheiros que praticavam ações terroristas, como também os militares que praticaram exceções no período.

Esta Lei resultou do clamor popular e da mobilização de toda a sociedade civil, eclesiástica e até mesmo de algumas dissidências militares por “uma anistia ampla, geral e irrestrita”. Desta forma, ela é um marco da transição entre o sistema autoritário implantado em 1964 e o regime de liberdade de direitos, democrático, no qual atualmente vivemos.

Hoje, no entanto, muitos dos ex-guerrilheiros, que pegaram em armas para impor ao Brasil, pela força, o regime Comunista, querem passar para história como heróis. Muitos deles ainda se julgam responsáveis pela abertura do sistema, mesmo na clandestinidade ou no exílio. Mas verdadeiros heróis foram os que resistiram aqui mesmo. Somente com a arma da voz e das ruas romperam o sistema.

Felizmente, desde a queda do muro de Berlim, no século passado, o comunismo fragmentou-se pelo atraso e autofagia do próprio sistema. Nesse processo a presença ativa de uma burguesia de estado, a falta de liberdade dos cidadãos, o materialismo imposto nos bancos das escolas, a coerção da liberdade de pensamento e de informação, entre outras restrições dos direitos universais.

Ficou definitivamente provado para o mundo, com os exemplos dos países da antiga cortina de ferro, da Europa Oriental, que o comunismo é definitivamente um regime autoritário e restritivo da liberdade, imposto pela força.

Então, temos que aceitar o capitalismo da forma como ele nos apresenta? Definitivamente, também não!

Um sistema mais humano e realmente democrático só será alcançado pela educação em massa. Mas educação de qualidade, com capacidade de transformação e de indução ao pensamento crítico. É deste tipo de educação que os governos populistas têm medo, porque para eles o povo só serve como instrumentos de manobras.

Daí o seu marketing político, que não ensina a pensar. Serve-se sempre dos mesmos chavões, tal como papagaios ensinados a repetir a mesma cantilena.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Político medíocre, política pobre!


Com a vertiginosa queda de Dilma Rousseff apontada em pesquisas recentes, muitos políticos da base aliada já demonstram a vontade de abandonar o barco. Não é em vão que nos últimos meses, o governo federal tenha tido tanta dificuldade para aprovar as suas Medidas Provisórias -“como nunca antes na história deste país”- tanto na Câmara dos Deputados, como no Senado Federal.

É tradição no Brasil, que o político vá em direção da correnteza. Lamentável, mas é a realidade. Poucos são os partidos e os políticos que defendem posições ideológicas, que cumprem com fidelidade as diretrizes partidárias. A maioria tem como principal bandeira apenas o poder, para tirar vantagens de suas indicações políticas aos cargos de comissão ou da liberação das emendas parlamentares.

O poder, quando vai bem, funciona como um ímã agregando todo mundo, entretanto quando vai mal, como um curto circuito, que chega a congestionar as portas disponíveis para a saída.

Há bem pouco tempo, vimos o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, abandonar o barco do DEM, incentivado pelo ex-presidente Lula da Silva e fundar o seu próprio partido, o PSD. Muitos dos parlamentares que estavam na oposição, viram naquela iniciativa, a oportunidade de agregarem-se ao governo. Se a política econômica estava mal, pouco importava diante da alta popularidade da presidente.

O prêmio pela aliança do PSD de Gilberto Kassab ao governo foi a nomeação de Guilherme Afif Domingues, também vice-governador de São Paulo, para a chefia da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, que tem status de ministério.

É claro que a intenção de Lula da Silva e da Presidente Dilma Rousseff, era também enfraquecer o governo de São Paulo. O mais importante para o governo petista, como é de conhecimento de todos, é a manutenção do poder, se possível sem oposição.

Então, pode ter tudo haver que Gilberto Kassab, já está abandonando a aliança com o governo da presidente Dilma, para apoiar a candidatura de José Serra nas próximas eleições presidenciais, como anunciou esta semana na “Folha de São Paulo”.

Confirmando-se este fato, certamente José Serra deixará o PSDB para ingressar no PPS, que o espera de portas abertas, vislumbrando o crescimento do partido.

Mas, como diz o secretário- geral do PSD, Saulo Queiroz, tudo parece ser relativo, porque “O PSD é aliado de Dilma. Pode ser que o PSD apoie Serra caso ele cresça, mas isso não vai acontecer”. São coisas da política brasileira. Lembremos, apropriadamente, o poeta Tom Zé, quando ele diz: “... Estou te explicando para te confundir; estou te confundindo para te esclarecer...”

O oportunismo demasiado dos políticos chega à margem do ridículo!

Com os políticos que estão aí, o que podemos esperar de uma reforma política? 


                       
                       

terça-feira, 16 de julho de 2013

Decisão audaciosa e inteligente

A vitória da Grã – Bretanha na batalha naval de Trafalgar (1805) deu a Napoleão Bonaparte a dimensão das dificuldades que teria para alcançar a Costa da Inglaterra e atacar Londres. O lendário almirante Nelson, morto na batalha, ousara uma estratégia que impôs às esquadras francesas e espanholas, mesmo com uma frota mais numerosa, pesadíssimas baixas. A derrota fora clamorosa!

Então, para ferir a economia britânica, Napoleão decreta o Bloqueio Continental impedindo que os navios da Grã - Bretanha aportassem em qualquer parte do Império francês ou aliado; a paz estabelecida com a Rússia consolida esta estratégia. Todavia, não obstante as pressões da França, Dinamarca e Portugal insistiam pela neutralidade.

O primeiro a ceder e cerrar seus portos à Grã- Bretanha é a Dinamarca. Porém, a reação britânica é imediata e tenaz: uma esquadra com 27 mil homens sai em julho de 1807 da Inglaterra e bombardeia Copenhague; após cinco dias a cidade de rende e 13 naus, 14 fragatas e 42 navios são capturados.

Portugal, por sua vez, persiste em não entrar no conflito, pois a aliança à França implicaria perder o domínio das colônias de ultramar, de onde provinha 70 por cento de suas riquezas, já que a supremacia britânica nos mares era patente. A aliança à Grã-Bretanha, por outro lado, ensejaria a invasão pela França, através da Espanha, aliada de Napoleão.

Neste dilema, o Conselho de Estado português, presidido pelo príncipe regente D. João, ganhava tempo em complicadas gestões diplomáticas, na esperança de que a Grã- Bretanha e a França firmassem um tratado de paz. Se isto acontecesse Portugal passaria incólume, sem prejuízo de seu território ou de suas colônias.

Napoleão, entretanto, incomodado com a presença britânica em Portugal, determina a D. João que: decretasse a imediata adesão ao Bloqueio Continental; declarasse guerra a Grã- Bretanha; mandasse prender e seqüestrar os bens de todos os cidadãos britânicos em solo luso. Concomitantemente, Napoleão firma um tratado com a Espanha repartindo o território de Portugal e passa a concentrar forças na fronteira, para realizar a invasão.

O Conselho de Estado português ainda se esforça em persuadir Napoleão, declarando guerra à Grã Bretanha, em 28 de outubro de 1807, mais uma invasão de Portugal já estava selada. Uma semana antes, porém, a diplomacia lusa havia firmado a chamada Convenção Secreta com a Grã Bretanha, concedendo privilégios comerciais, inclusive a abertura de portos nas colônias, em troca de escolta que garantiria a transferência da corte para o Brasil.

Quando a esquadra lusa parte em 29 de novembro de 1807, com a escolta da armada britânica, que bloqueava a entrada do Rio Tejo, as tropas napoleônicas iniciavam o cerco a Lisboa.

A invasão de Portugal pela França era uma ameaça prevista pelo Conselho de Estado, que articulava a transferência da Corte em segredo, dissimulando-a em enviar o príncipe D. Pedro ao Brasil. Por esta razão, toda esquadra portuguesa, dissipada estrategicamente pelo mundo, se encontrava reunida em Lisboa. Outra medida foi manter no Brasil os navios mercantes, para reter na colônia as riquezas que seriam enviadas a Portugal.

A guarnição da frota, a seleção dos documentos do arquivo real e o armazenamento dos milhares de livros das bibliotecas, do tesouro real e das obras de arte demandaram muito tempo. Portanto, não se pode supor uma “fuga apressada”, por subtrai a competência do experiente Conselho de Estado de Portugal.

O que era inimaginável é que a tropas napoleônicas chegassem a farrapos, fatigada e faminta, pelas dificuldades encontradas. Nem que Napoleão viesse a lamentar no exílio a decisão de invadir de Portugal.





sexta-feira, 12 de julho de 2013

Saúde como instrumentação político



Há algumas semanas publicamos neste mesmo espaço o artigo que titulamos “O que é isso, companheiro?”, inspirado no título do livro de Fernando Gabeira. Naquela ocasião, contrapomos a forma pela qual o governo brasileiro buscava a contratação de médicos estrangeiros defendendo a validação dos diplomas para habilitação profissional, como também criticando a contratação de médicos cubanos.

Com relação à contração dos seis mil médicos cubanos prometidos pelo ministro Alexandre Padilha, afirmamos que era uma forma do governo brasileiro “subsidiar o governo cubano, com milhões de dólares ao mês”. Todo trabalhador em Cuba, inclusive os médicos, é servidor do governo, sem autonomia profissional. O próprio direito de escolha do local de trabalho é restrito. As exceções são prioridades limitadas aos membros do partido.

Os contratos para cessão de médico por Cuba, a exemplo do que é feito com a Venezuela, são firmados entre governos. O médico cubano, portanto, não tem qualquer liberdade para escolher e firmar contrato com nenhuma instituição, muito menos se ela estiver em um país estrangeiro. Mencionamos isto, com absoluta convicção, por conhecer in loco a realidade do trabalho médico em Cuba.

É estranho que somente agora o governo brasileiro tenha se dado conta desse fato, para informar que desistiu da contratação dos cubanos. Nossa embaixada em Cuba é extremamente atuante e conhece com detalhes o funcionamento burocrático da Ilha.

Vejam o que não faz “a voz rouca das ruas”. Ficaria muito difícil sustentar mais essa ajuda para Cuba. Já não bastam as obras de infraestrutura realizadas com recursos do BNDES, subsidiados pelo povo brasileiro?

Nos últimos dez anos deixamos que a nossa Petrobras fosse expropriada pela Bolívia; que empresas brasileiras fossem expulsas e perdessem recursos no Equador; abrimos mão do Tratado de Itaipu com o Paraguai; perdemos estradas de ferro e continuamos a ser tripudiados pela Argentina; liberamos dívidas de bilhões de dólares com países africanos.

Até parece que todos os nossos problemas foram resolvidos e que “agora somos um país desenvolvido”, da forma com que muitas vezes nos querem fazer crer. O que não faz o oportunismo? O que deixa acontecer a ignorância?

O principal problema da saúde no Brasil é a falta de financiamento. Gastamos muito pouco ainda com o setor. Muito aquém do que gastam os nossos próprios vizinhos, tais como Argentina, Chile e Colômbia. Esse problema ainda é agravado pela insipiência da gestão pública e pela corrupção.

A contratação de médicos estrangeiros, portanto, não é nenhuma solução para resolver os maiores problemas da saúde. Alexandre Padilha ao afirmar “que o programa não vai tirar vagas de médicos brasileiros, pelo contrário, vai gerar mais empregos para esses profissionais”, na realidade comete mais um equívoco. O que não necessitamos é emprego para médicos estrangeiros, mas melhorar os serviços já existentes.

Nos últimos anos as Santas Casas de Misericórdia e os Hospitais Filantrópicos acumularam uma dívida de R$ 10 bilhões, pelo descaso do governo com a saúde. Essas entidades são responsáveis por cerca de 50% dos atendimentos do SUS.

O que estão anunciando para a saúde não é nada mais que outras balelas. Por isto as medidas anunciadas não têm encontrado apoio das entidades sérias do nosso país.

Infelizmente, tudo indica que o que estamos assistindo é a campanha antecipada para governador de São Paulo.