terça-feira, 27 de agosto de 2013

Uma Imperatriz despedaçada


O augúrio de D. Leopoldina começou a ser traçado com a chegada de Domitila de Castro do Canto e Melo ao Rio de Janeiro. O príncipe D. Pedro a conhecera em São Paulo, através do irmão, alferes Francisco de Castro, durante viagem para debelar os conflitos que instabilizavam aquela província, dias antes da independência.

Domitila casara-se aos 15 anos, com o alferes Feliciano de Mendonça, com quem teve três filhos. Aos 21 se separara, após ser espancada e esfaqueada. Segundo Feliciano, por “violação da honra”, pois a encontrara “resvalada aos pés de um fauno”, como dizia do coronel Francisco Lorena, que viria a manter relação com Domitila até seus 24 anos, quando ela conhece D. Pedro.

Domitila não tardou a seduzir o regente, pois o primeiro encontro íntimo foi quase imediato, em 29 de agosto de 1822. Também não tardaria a abalar o prestígio do imperador D. Pedro I e o Império nascente. Mas, as feridas mais profundas seriam dilaceradas na Imperatriz, D. Leopoldina, pela ascensão de Domitila sobre D. Pedro. 

Ainda em julho de 1823 D. Pedro I demite José Bonifácio, amigo e confidente de D. Leopoldina, que é forçado ao exílio. Compõe, então, um governo de portugueses. A Imperatriz vai ficando isolada, o que é agravado quando o imperador nomeia a concubina para Primeira Dama da Imperatriz, em abril de 1825, dando-lhe lugar de honra e o direito de acompanhar D. Leopoldina por toda parte.

Segundo Maria Graham, isto causou à Imperatriz “o mais odioso dos incômodos”, pois permitia que Domitila a acompanhasse, desde que ela saía dos seus aposentos. Mesmo assim, pelo amor a D. Pedro e aos filhos, a Imperatriz mantinha-se altiva, por considerar um dever suportar situações adversas. Não raras vezes, ainda era submetida a restrições financeiras e obrigada a recorrer a amigos, enquanto Domitila e os seus eram contemplados por ricos presentes, cargos e títulos honoríficos.

Em 12 de outubro de 1825, no aniversário do imperador, Domitila é elevada à Viscondessa de Castro; no seguinte, à Marquesa de Santos. Antes, porém, em maio de 1826, D. Pedro reconhece publicamente a paternidade de Isabel Maria, filha com Domitila, impondo sua convivência com os filhos legítimos. Um duro golpe, que deixa a imperatriz muitíssimo ressentida.

Outro golpe foi a viagem à Bahia, com o fim de arregimentar tropas para a Guerra da Cisplatina, entre fevereiro e março de 1826. Para o povo baiano foi um escândalo a forma de D. Pedro tratar a concubina, se hospedando no mesmo lugar que ela, em detrimento de D. Leopoldina e da filha Maria da Glória, que ficaram em local mais modesto.

Em decorrência de tantas adversidades a imperatriz entra em grande crise depressiva, que só termina com sua morte, aos 29 anos, em 11 de dezembro de 1826. Deixa cinco filhos: o mais novo, Pedro de Alcântara, com um ano, seria Imperador do Brasil; a mais velha, Maria da Glória, com 7, seria Rainha de Portugal.

Tudo começou no dia 20 de novembro, quando D. Pedro I lhe passaria a Regência, para uma viagem de inspeção às tropas, no sul do país. D. Leopoldina, grávida, se recusara a ser acompanhada por Domitila, o que deixou o imperador furioso, por não poder mostrar aos presentes a “normalidade” da sua vida conjugal.

Na carta derradeira à irmã Maria Luíza, ditada à Marquesa de Aguiar no dia 8 de dezembro, D. Leopoldina diz que D. Pedro “acabou de dar-me a última prova de seu total esquecimento, maltratando-me na presença daquela que é a causa de todas as minhas desgraças. Muito e muito tinha a dizer-te, mas faltam-me forças para me lembrar de tão horroroso atentado que será sem dúvida a causa da minha morte”.

Se a Imperatriz morreu por septicemia puerperal após ser agredida por D. Pedro, não há provas. Do que há é que Domitila ainda tentou adentrar nos aposentos onde a Imperatriz agonizava, mas que foi impedida pela pronta ação dos que acompanhavam D. Leopoldina em sua agonia mortal.


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