sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Fisiologismo da vergonha


A ONG Transparência Brasil divulgou esta semana, que quase um terço dos senadores e deputados federais brasileiros tem sentença condenatória. Um dado desalentador, mas que reflete a realidade do nosso parlamento. Não são poucas as comprovações que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal têm dado à nação, de que se encontram distante de cumprir com fidelidade as suas funções. Sempre prevalecem as mazelas, ficando em segundo plano as questões maiores.
Recentemente, vimos o deputado Natan Denadon (ex-PMDB-RO) ser mantido por seus pares na Câmara dos Deputados, depois de condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e preso, por formação de quadrilha e desvio de vultosa soma de recursos públicos, quando exercia a presidência da Assembléia Legislativa de seu estado. Uma decisão vergonhosa para o parlamento, por admitir o exercício de mandato de um criminoso, preso em uma penitenciária.
Talvez em nenhuma outra nação haja fato similar, por mais subdesenvolvida que ela seja. Tal decisão é um escárnio com o país. Um desrespeito ao próprio parlamento, às instituições e à população, que paga os impostos e as contribuições para a manutenção do serviço público. Também denigre a imagem do Brasil no mundo e desacredita ainda mais a classe política. Portanto, é uma vergonha nacional, realizada com o cinismo do voto secreto.
E isto é só um pequeno exemplo. Mas, exemplos não faltam: escorrem pelos ralos e ladrões da Câmara dos Deputados e do Senado.
Pelo levantamento da Transparência Brasil, o parlamento brasileiro tem hoje 190 deputados e senadores condenados pela Justiça ou Tribunais de Contas.  Estão distribuídos, por partido político, pela seguinte ordem: 36 parlamentares são do PMDB, 28 do PT, 22 do PSDB, 16 do PR, 14 do PP, 14 do DEM, 12 do PSB, 10 do PDT, nove do PTB e o restante (29) distribuído pelos demais partidos.
Embora a grande maioria dos condenados faça parte da base de sustentação do governo, não se pode generalizar e dizer que há melhores ou piores nesse balaio. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal estão contaminados. Tanto pela situação, como pela oposição.
Assim, está corretíssima a afirmação de Claudio Weber Abramo, diretor executivo da Transparência Brasil, de que “essas condenações confirmam uma avaliação negativa da composição do Congresso”. Faltou apenas dizer, que a permanência desses parlamentares, compromete as próprias decisões tomadas pelo Congresso Nacional.
Por isto, raramente as decisões vão de encontro ao aperfeiçoamento das leis. A própria reforma política, tão necessária à nação, é sempre protelada. A realidade é que não há vontade em realizar qualquer reforma. Os remendos que sempre são feitos, conforme o recentemente aprovado pelo Senado Federal, chamado de “minirreforma”, tem sempre por objetivo afrouxar a lei e favorecer os candidatos.
Lamentável, porque temos um dos parlamentos mais caros do mundo, com excesso de funcionalismo e mordomias. Para piorar a situação, não se contam nos dedos de uma única mão os partidos políticos que seguem alguma linha doutrinária; que têm diretrizes, ideologias e propostas de governo. A maioria prefere ficar atrelada às benesses do executivo, que o caminho nobre da independência.
Atualmente já são 32 partidos políticos. Somente nesta semana, o TSE autorizou mais dois: o Partido Republicano da Ordem Social (PROS) e o Solidariedade. Mas, brevemente serão 34. Quase 50 deputados e senadores já estão em movimentação para o troca-troca de partido. Haja fisiologismo!
Até a Lei “Ficha Limpa”, de iniciativa popular, eles sempre conseguem burlar. Partido político é bom, faz bem à democracia. Mas, imperativamente, que eles tenham princípios.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Macunaíma, reproduzindo nossos “heróis”

Mais uma vez o ex-ministro da Casa Civil e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Dirceu, vem inflamar os militantes ao jurar inocência, mesmo condenado pelo Supremo Tribunal Federal – STF, por uma sucessão de crimes. O instrumento escolhido foi a Fundação Perseu Abramo, do PT, que transmitiu a entrevista na última terça-feira em seu site, para difusão nos principais meios de comunicação do país.
Uma das expertises de Dirceu é saber se comunicar com as massas de seu partido. Ele sabe dizer, como poucos, o que elas querem ouvir. Sabe também que elas propagarão na mesma linguagem, com fidelidade e sem questionamento, as estratégias orquestradas. Não importa se essas estratégias preservem, ou não, os valores democráticos e a ética. Acima de tudo e de todos está o partido e os seus.
Naquela entrevista Dirceu diz-se “o principal alvo da inveja de setores da elite desse país, que não se conforma com a liderança do Lula no mundo e a vitória de Dilma”. Completa vitimando-se da “mágoa, inveja e ódio disseminados em parte da sociedade”.
Dirceu, entretanto, não nomina de qual elite ele é vítima. Da política, certamente não é. Dessa elite ele mesmo faz parte, tal como o ex-presidente Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff e tantos outros de seus partidários. Nela incluem-se os “cumpanheiros” José Sarney, Renan Calheiros, Paulo Maluf, Valdemar Costa Neto, Jader Barbalho, Carlos Lupi, entre os políticos dos partidos aliados ao governo petista. Portanto, essa parte da elite também não pode ser.
Se a elite a que Dirceu se refere for a empresarial, da mesma maneira não há fundamento na afirmação. A maioria dos empresários, inclusive o ex-bilionário EiKe Batista, é aliada incondicional do governo. “Nunca antes na história deste país” ela foi tão beneficiada com empréstimos do BNDES, distribuídos com dinheiro subsidiado pelo povo brasileiro.
Quanto à “mágoa, inveja e ódio disseminados em parte da sociedade”, até aqui ninguém viu, durante uma década de governo petista, as ruas e avenidas esbravejarem “FORA LULA!”, “FORA DILMA!”, da forma ostensiva como vimos no passado o “FORA FHC!”. A sociedade brasileira aceitou o governo petista, por eleito democraticamente. As críticas são manifestações democráticas, das quais qualquer governo deve estar afeito.  
Entretanto, muda-se o lado do disco, mas o discurso não muda: O culpado é sempre a “elite maldita”; a oposição, que nem durante o período da ditadura militar foi tão vilipendiada e fraca; a imprensa “golpista”, que peca por denunciar os malfeitos, os desmandos e a corrupção; a direita brasileira “que tem complexo de vira-lata” (nas palavras de Dirceu), mas que continua servida e servindo ao governo petista.
José Dirceu mais uma vez fez-se alvo atacando. Jamais conceberá publicamente que o MENSALÃO existiu; que há um conjunto robusto de provas e testemunhas, porque dissimula em proveito próprio e do partido.  Delatar um malfeito é um crime imperdoável na sua corrente política. Vale tudo, menos dizer a verdade. Vale, inclusive, aparelhar as mais nobres instituições do país, da forma como fizeram com a nossa Suprema Corte.
Mas, na realidade, Dirceu lamenta encenando para a platéia. Ele sabe que no Brasil há sempre um meio da elite procrastinar o processo, mesmo quando é condenada. Sabe também que a formação de quadrilha é um crime que não atinge os colarinhos brancos. Sempre há um jeitinho! Não importa se para isto o STF seja desmoralizado.
Assim, lá do túmulo onde está o escritor Mário de Andrade, ele olha para o Brasil assustado. Sua criação MACUNAÍMA está reproduzindo nossos “heróis”.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Mais Médicos. Menos dignidade humana.


Ninguém em sã consciência pode ser contrário a contratação de médicos para as regiões carentes. Muitas comunidades não têm sequer um único médico para suprir a atenção básica da saúde. Necessitamos principalmente de generalistas, de forma que a contratação de profissionais não brasileiros é uma estratégia que não pode ser menosprezada, a exemplo do que acontece em outros países.
Contudo, o programa “Mais Médico” tem suscitado inúmeras polêmicas. Primeiro, pela forma autoritária e sem transparência como o governo federal tem conduzido o programa, sem debate no parlamento e participação dos órgãos representativos da classe; segundo, pelo viés ideológico, passando por cima das leis e das tradições históricas do nosso país.     
Começando por esta última questão, chega a ser piada de mau gosto a vice-ministra da Saúde de Cuba, Márcia Cobas, dizer aos brasileiros que os cubanos chegam ao Brasil para uma “missão humanitária e de solidariedade entre os povos”. É triste, lamentável e até repulsivo ouvir isto! A “solidariedade” é o fim econômico, haja vista que a maior parte dos recursos será apropriada pelo governo cubano, como uma espécie de subsídio.
A fala de Maria Cobas, consecutivamente, nada mais é que propaganda do sistema político de seu país. Não à toa ela chegou a esse posto, condecorada pelos “grandes serviços prestados” à ditadura implantada e dirigida pelos irmãos Castros.
Cuba é uma das últimas ilhas do comunismo no mundo. Um sistema que auto-implodiu na Europa pelo totalitarismo, imposto por uma burguesia de Estado restritiva dos direitos humanos. Lá o cidadão é privado de pensar diferente do que lhe é imposto pelo regime. Se isto acontece é vigiado e perseguido, tal como a escritora Yoani Sanchéz. Daí o clamor por liberdade e rotineiras tentativas de fuga.
O médico cubano que chega ao Brasil não foge a essa regra. Ele vem exportado tal qual uma mercadoria, sem qualquer direito, nem mesmo de trazer a família, que fica retida. A maior parte do salário será apropriada pelo governo, o que Carl Marx (principal ideólogo do comunismo) define como “Mais Valia”, para justificar a exploração do trabalhador no sistema capitalismo. Por isto, a relação de trabalho do médico cubano será assemelhada ao próprio escravismo. Não é por outro motivo que os passaportes ficarão retidos na embaixada de Cuba.
O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, adiantou que os cubanos “são pessoas que estão entrando no país, não como refugiados. São profissionais que têm de respeitar as regras do convênio com a Organização Pan-Americana da Saúde”. Disse, ainda, que nenhum médico terá direito a asilo político; que no caso de fuga “eles seriam devolvidos”.
E para evitar a fuga, todos eles foram muito bem selecionados. Além disso, serão vigiados por “coordenadores” de grupo, como na Bolívia e na Venezuela. Mas, se por acaso alguns desertarem do programa, não faltaram “capitães do mato” brasileiros, para caçá-los e repatriá-los para Cuba.  
Quanto ao aspecto do autoritarismo e da falta de transparência, basta citar esse pequeno trecho de matéria de Lígia Formente e Andreza Matais, publicada em “O Estado de São Paulo”:
Médicos cubanos recrutados para trabalhar no Brasil recebem aulas de português e informações sobre o SUS há pelo menos seis meses. Mesmo sem a formalização de um acordo, professores brasileiros, usando material didático do Mais Médico, viajam para diversas localidades de Cuba para iniciar a formação dos profissionais, em uma sinalização de que o governo há tempos trabalha com a meta de trazê-los para o país.
Claro! Tudo estava em surdina. E o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, falando que havia desistido de trazer os cubanos. Agora se vê com clareza que era tudo balela. O ministro só estava esperando a poeira baixar.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Gestão do marketing e da incompetência



A mobilização que sacode o Brasil pegou de surpresa a classe política. Até então, no pedestal do poder, eles mantinham a certeza de que poderiam fazer o que bem quisessem, como se não houvesse limites. As promessas de campanha já estavam esquecidas há muito tempo, desde o fechamento das urnas. Do mandato do povo sobrava apenas o discurso, por pura retórica. Tudo continuaria “como dantes no quartel de Abrantes”.
Foi, então, um grande susto para os políticos uma manifestação repentina e tão grande, logo no início da Copa das Confederações. Não é por outro motivo, que no primeiro instante quase todos desapareceram, assustados, sem compreender o estava acontecendo.
É que eles esperavam, pelo marketing político, que todos acreditavam no Brasil “perfeito”, sem problemas. Fazia tempo que o circo estava na praça e o pão na mesa. Certamente, o discurso recorrente já estaria moldado na cabeça de todos!
Um exemplo, entre outros que poderiam ser citados, é o caso da Petrobrás. Cansamos de ver Lula da Silva nas plataformas com as mãos sujas de petróleo, vendendo à nação a “solução” do pré-sal e anunciando o fim de nossos problemas. Hoje, com toda clareza, está nítida a utilização política daquela grande empresa brasileira.
Péssima gestão. Péssimos investimentos. Péssimos planos de negócios. Uma direção irresponsável e incompetente. Ficou o rastro, formado por imensos prejuízos ao país e aos acionistas minoritários. O valor da Companhia despencou no mercado, enquanto o Brasil perdia sua auto-suficiência de petróleo.
O ex-presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielle, é um caso típico da incompetência da década petista. Vivêssemos em um país mais sério, com bons valores consolidados, seria mais um caso de cadeia!
O que eles não imaginavam é o povo saturado, por horas e horas de idas e vindas ao trabalho. Pelas escolas de péssima qualidade e filas e filas do SUS. Que o povo estava cansado de tanto discurso. E endividado pelo crédito fácil, para incentivar o consumo.
O aumento no preço das passagens e a construção dos estádios no padrão FIFA, a preço de ouro, foram apenas a gota d’água. Assim, de pouco adiantará as soluções de palanque para acalmar as massas. Elas querem muito mais!   
Como disse Dora Kramer na quarta-feira, em sua coluna em “O Estado de São Paulo”: - Inaceitável é que o açodamento, no afã de autoridades de todos os níveis se mostrem atentas a um clamor que sempre ignoraram, resulte na aprovação de projetos e anúncios de medidas que levem a resultados opostos àquilo que a população saiu de casa para exigir: Estado organizado, presente, eficiente e decente.
Só que há ainda muitos políticos escondidos, sem querer mostrar a cara. É que guiados pelos marqueteiros, nessas horas os mais “espertos” (ou covardes?) se escondem. Preferem ficar descolados do evento, para preservar “a boa imagem” diante da opinião pública.
Então, que tenhamos muito cuidado, porque a UNE e a CUT já voltaram às ruas. Além do mais, há político esperto esperando apenas a hora para dar o bote.