sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Macunaíma, reproduzindo nossos “heróis”

Mais uma vez o ex-ministro da Casa Civil e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Dirceu, vem inflamar os militantes ao jurar inocência, mesmo condenado pelo Supremo Tribunal Federal – STF, por uma sucessão de crimes. O instrumento escolhido foi a Fundação Perseu Abramo, do PT, que transmitiu a entrevista na última terça-feira em seu site, para difusão nos principais meios de comunicação do país.
Uma das expertises de Dirceu é saber se comunicar com as massas de seu partido. Ele sabe dizer, como poucos, o que elas querem ouvir. Sabe também que elas propagarão na mesma linguagem, com fidelidade e sem questionamento, as estratégias orquestradas. Não importa se essas estratégias preservem, ou não, os valores democráticos e a ética. Acima de tudo e de todos está o partido e os seus.
Naquela entrevista Dirceu diz-se “o principal alvo da inveja de setores da elite desse país, que não se conforma com a liderança do Lula no mundo e a vitória de Dilma”. Completa vitimando-se da “mágoa, inveja e ódio disseminados em parte da sociedade”.
Dirceu, entretanto, não nomina de qual elite ele é vítima. Da política, certamente não é. Dessa elite ele mesmo faz parte, tal como o ex-presidente Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff e tantos outros de seus partidários. Nela incluem-se os “cumpanheiros” José Sarney, Renan Calheiros, Paulo Maluf, Valdemar Costa Neto, Jader Barbalho, Carlos Lupi, entre os políticos dos partidos aliados ao governo petista. Portanto, essa parte da elite também não pode ser.
Se a elite a que Dirceu se refere for a empresarial, da mesma maneira não há fundamento na afirmação. A maioria dos empresários, inclusive o ex-bilionário EiKe Batista, é aliada incondicional do governo. “Nunca antes na história deste país” ela foi tão beneficiada com empréstimos do BNDES, distribuídos com dinheiro subsidiado pelo povo brasileiro.
Quanto à “mágoa, inveja e ódio disseminados em parte da sociedade”, até aqui ninguém viu, durante uma década de governo petista, as ruas e avenidas esbravejarem “FORA LULA!”, “FORA DILMA!”, da forma ostensiva como vimos no passado o “FORA FHC!”. A sociedade brasileira aceitou o governo petista, por eleito democraticamente. As críticas são manifestações democráticas, das quais qualquer governo deve estar afeito.  
Entretanto, muda-se o lado do disco, mas o discurso não muda: O culpado é sempre a “elite maldita”; a oposição, que nem durante o período da ditadura militar foi tão vilipendiada e fraca; a imprensa “golpista”, que peca por denunciar os malfeitos, os desmandos e a corrupção; a direita brasileira “que tem complexo de vira-lata” (nas palavras de Dirceu), mas que continua servida e servindo ao governo petista.
José Dirceu mais uma vez fez-se alvo atacando. Jamais conceberá publicamente que o MENSALÃO existiu; que há um conjunto robusto de provas e testemunhas, porque dissimula em proveito próprio e do partido.  Delatar um malfeito é um crime imperdoável na sua corrente política. Vale tudo, menos dizer a verdade. Vale, inclusive, aparelhar as mais nobres instituições do país, da forma como fizeram com a nossa Suprema Corte.
Mas, na realidade, Dirceu lamenta encenando para a platéia. Ele sabe que no Brasil há sempre um meio da elite procrastinar o processo, mesmo quando é condenada. Sabe também que a formação de quadrilha é um crime que não atinge os colarinhos brancos. Sempre há um jeitinho! Não importa se para isto o STF seja desmoralizado.
Assim, lá do túmulo onde está o escritor Mário de Andrade, ele olha para o Brasil assustado. Sua criação MACUNAÍMA está reproduzindo nossos “heróis”.

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