sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O Brasil despido, se mostrando ao mundo

Após mais de sete anos de convivência com as autoridades brasileiras, o presidente e o secretário-geral da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), Joseph S. Blatte e Jérôme Valcke, já entenderam o que é o “jeitinho brasileiro”. Tanto é assim, que na iminência de não verem cumpridas as promessas firmadas, ambos partiram para a política do morde e assopra, de modo a evitar maiores desgastes.

Deve-se lembrar que o próprio Blatter, após visitar os principais estádios de futebol brasileiro, em abril de 2007, alertou o então presidente Lula e seu ministro dos Esportes, Orlando Silva, que nenhuma das arenas vistoriadas tinha condições de sediar a Copa. Na ocasião também abordaram os graves problemas de mobilidade urbana e de infraestrutura, bem como a necessidade de obras, que ficariam como legados para a população das cidades sedes.

A princípio o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, prometera que as reformas e construções das arenas seriam de responsabilidade da iniciativa privada. As demais obras caberiam às cidades sedes e aos estados, com o apoio financeiro do governo federal.

Antes, porém, o ministro Orlando Silva, com o aval de seu chefe, já havia prometido o seguinte: “O Brasil fará o que for preciso para que a Copa seja realizada no Brasil”. Depois o próprio Blatter demonstrou otimismo na saída de uma reunião com Lula da Silva, diante da empolgação do ex-presidente em realizar este evento.

Hoje, faltando 118 dias para o jogo inaugural entre o Brasil e a Croácia, das seis arenas restantes, que deveriam ser entregues até o final de 2013, apenas uma foi concluída. As arenas da Baixada (Coritiba) e a do Corinthians (São Paulo) só ficarão prontas em abril. Quanto à mobilidade urbana e a infraestrutura, diversas obras foram canceladas e poucas serão entregues a tempo.

Recentemente, o coordenador técnico da seleção brasileira, Carlos Alberto Parreira, em entrevista à CBN Esportes, afirmou ter havido “um descaso total”. Lembrou ainda que vários aeroportos “só serão licitados a partir de março, três meses antes”, e que isto é uma “brincadeira, pois fomos indicados há sete anos e só agora vão licitar em março, às vésperas da Copa do Mundo”.

No afã de mostrar ao mundo um país sem problemas, e ofertar um espetáculo - ou um circo? - à população brasileira, fica evidente que o governo petista não avaliou corretamente os encargos assumidos para realizar a Copa do Mundo. “O descaso total”, que se refere Parreira, não é uma ilação, mas a realidade nua de nosso fracasso no atual estágio da preparação.

A realidade é que estamos muito longe de um país de primeiro mundo, da forma como nos querem fazer crer o governo, inclusive a própria presidente Dilma Rousseff. Entretanto, continuamos com um dos piores indicadores de educação, quando comparados ao mundo; uma saúde pública com problemas de toda ordem. E a criminalidade e a segurança pública? O que dizer então da infraestrutura e da mobilidade urbana? E de questão simples, como a limpeza urbana das nossas cidades?

A presidente afirma que faremos “a Copa das Copas”, se abstendo de mencionar qualquer problema, pelo menos publicamente. Em certos casos ainda reluta em negá-los. Entretanto, é reconhecendo as deficiências o primeiro caminho que temos para enfrentá-las.


O que tem ficado para o mundo das declarações de Blatter e de Jérôme Valke, com relação aos atrasos do Brasil para a Copa do Mundo, é a amostra da nossa incompetência. Perdemos, portanto, mais uma oportunidade. Quem sabe, então, não seria necessário “um chute no traseiro” das autoridades brasileiras, da forma como disse Jérôme Valke no início de março de 2012, para despertá-las de seus fracassos. 

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