sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Marketing político - entre a esperteza e a desinformação

As últimas pesquisas de avaliação do governo e de intenção de votos para presidente da República têm confirmado que grande parte dos eleitores ainda se guia pela propaganda política na escolha do candidato. Isto explica, de forma bastante clara e convincente, a razão da candidata-presidente Dilma Rousseff manter o alto índice de popularidade, como tem apontado as últimas pesquisas. Contudo, entre os eleitores de maior escolaridade, o índice de rejeição da presidente continua bem grande.

Portanto, não foi em vão o esforço do governo - com destaque para o tradicional toma lá dá cá de cargos e favores - no sentido de garantir o tempo máximo possível para a propaganda da coligação da candidata-presidente Dilma Rousseff. A pretensão era de que as eleições fossem decididas em primeiro turno, com o uso da tática costumeira do “nós” contra “eles”, da forma como gosta os marqueteiros e dirigentes petistas.

Entretanto, a cúpula do PT (e Planalto) não esperava a queda do avião com Eduardo Campos, nem o retorno de Marina Silva ao campo da disputa como cabeça de chapa do PSB (Partido Socialista Brasileiro). Todos sabiam que com Marina Silva no páreo as eleições só seriam decididas em segundo turno. Daí o esforço para impedir a legalização do Rede Sustentabilidade, partido de Marina, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Com relação à distribuição do tempo de propaganda de rádio e televisão, o governo conseguiu atingir os objetivos planejados. Quase metade do tempo, ou seja, 11 minutos e 48 segundos por dia, ficou para a candidata petista. O segundo maior tempo, de 4 minutos e 31 segundos, foi para a coligação de Aécio Neves. Sobrou para Eduardo Campos, e agora Marina, apenas 1 minuto e 49 segundos. O restante do tempo foi dividido entre os demais candidatos.  Uma desproporção que em nada ajuda na consolidação de nossa Democracia.

Não obstante ao tempo, o que mais influencia o eleitor é a capacidade de convencimento da propaganda. Neste aspecto, a candidata governista também leva ampla vantagem, pois tem a máquina pública na mão, para mostrar o que fez (e nunca o que deixou de fazer), sem qualquer aspecto crítico, fantasiando, como é hábito no meio político, as suas realizações. O governo é sempre mostrado como perfeito. Os problemas e defeitos são atributos dos adversários, em nosso caso os da oposição.

Para incrementar tudo isto, há sempre as outras armas na mão. Recentemente, em matéria publicada na imprensa nacional, o antropólogo Roberto DaMatta, em seu artigo “Candidatos, pedintes e profetas”, disse muito bem que “de saída, vale mencionar a mudança dos poderosos que — bem vestidos e protegidos, os que sabem tudo sobre o Brasil — transformam-se em profetas e pedintes. É com o coração na mão que nós os vemos fantasiados de gente simples, ouvindo eleitores em locais insalubres e perigosos. Em botequins baratos, a comer pastéis ou traçando com indisfarçável falta de jeito um bandejão”.

Neste enfoque, a transformação da candidata-presidente é brutal. De carrancuda, transformou-se em santa e o seu governo é só perfeição. O que a propaganda não faz?

Para agravar, infelizmente a desinformação no Brasil é muito grande. E como a maioria da população não demonstra interesse em conhecer com maior profundidade os bastidores da política, ela própria joga contra os seus patrimônios ao ficar susceptível ao mundo de promessas e fantasias da propaganda.

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